sexta-feira, 19 de dezembro de 2008


09/11/2008
Trágico, um domingo trágico...


Sabe aqueles dias em que você acorda, mas parece que não acorda? Aquele dia que parece que você não está ali? Pois é, hoje foi um deles. Me senti estranho desde a hora em que acordei, e olha que tinha motivos de sobra para ter um dia agradável. Não tinha que trabalhar, ia almoçar em casa com a família e ia ao estádio com meu irmão e um grande amigo assistir uma decisão: Palmeiras x Grêmio, um dos jogos mais esperados do campeonato deste ano.

Bom, não sei explicar muito bem o que sinto em relação ao maldito futebol, tanto que não me lembro de ter escrevido algo sobre isso. Na verdade, sempre evitei, nunca quis. Semana de jogo, decisivo ou não, fico com a ansiedade de uma criança que está esperando aquele brinquedo no Natal ou no aniversário. Isso mesmo, aquele tão esperado, aquele que você só vai ganhar no Natal ou no aniversário se tiver se comportado bem o ano todo e com boas notas na escola.

Um dia trágico tem antecedentes trágicos. Os ingressos com venda antecipada para este jogo se esgotaram há quase dois meses e eu não consegui comprar por causa de um maldito dia. As compras são feitas por um site, através do cartão de crédito. Todos os dias eu entrava no tal site e acompanhava apreensivamente os lugares se esgotando. Sim, eu estava duro, colocando a casa em ordem e tinha que esperar a fatura do cartão virar o mês. Sempre é no dia 22, mas desta vez foi dia 23. Finalmente a fatura virou, entrei no site e todas as cadeiras já haviam sido comercializadas. Me restava esperar a época do jogo e comprar a famosa arquibancada. Dito e feito!!!! Existe um outro site onde é possível comprar os ingressos apenas na semana do jogo, basta apenas se cadastrar. A taxa de conveniência vale a pena, se levar em consideração o tempo que se perde indo a um dos postos de vendas, a falta de tempo que assola a vida das pessoas, o combustível e as conseqüências da desorganização que as vendas de ingresso para qualquer evento concorrido no Brasil gera. Para este jogo, por exemplo, em cinco horas todos os ingressos se esgotaram, tanto no site quanto nos postos de vendas espalhados pela cidade, que acomodaram filas quilométricas com gente passando a noite para garantir um lugar e tudo o mais. Mas como eu disse, toda tragédia tem antecedentes. As 7h da terça-feira estava eu lá no tal site efetuando a compra dos ingressos. Na última tela, antes de fechar o pedido, a conexão cai - o site travou!!!!!! Não avançava, não voltava e eu não havia conseguido anotar o número do meu pedido para que eu pudesse verificar no site a concretização da compra. Fiquei puto, quase joguei o computador pela janela, só me lembro da mensagem “pedido nº 445 alguma coisa finalizado”. Ligava na Central de atendimento e o telefone tocava até cair. Pior, quando atendia, alguém o desligava em seguida. Tentei me manter calmo, mesmo após ter entrado no site do meu banco e ter visto que o valor da compra já havia sido debitado de minha conta. Eu estava calmo. Pensei comigo, vou trabalhar e logo isso vai se resolver. Horas e mais horas tentando falar com a Central de Atendimento, para depois de uns cinco contatos, ouvir a atendente dizer que os ingressos já haviam se esgotado e que eu, mesmo com a compra debitada da minha conta, corria o risco de ficar sem ingressos, pois eles também não conseguiam localizar meu pedido. As 19h30 o telefone do escritório tocou, finalmente acharam meu pedido, me deram o tal número. Entrei no site visualizei o maledeto e imprimi a cópia, ufa!!!!!

Uma tragédia tem antecedentes. Toda vez, antes de um jogo, costumo fazer uma simulação no vídeo-game. As vezes até nas escalações, com desfalques e tudo mais. Joguei contra o Grêmio três vezes, empatei as três!!!!! A última cartada, na sexta a noite....empate, empate na prorrogação e derrota nos penaltis, fiquei preocupado...
Que mania idiota, o que uma merda de uma partida de vídeo-game interfere no jogo de verdade? Não sei, mas quando eu ganho a gente sempre ganha de verdade.

Toda tragédia tem antecedentes. No domingo de manhã eu ia tirar a prova, a última partida antes de ir ao estádio... Eu não consegui, de jeito nenhum, desconectar o cabo da tv à cabo para conectar o vídeo-game na tv. Nem com alicate, nem puxando, nem rezando e nem chutando a tv... Não joguei e fui para o estádio com a derrota de sexta na cabeça e a pulga atrás da orelha. Mesmo que perdesse cem vezes, mas ganhasse a última, o negócio era válido, sempre foi assim.

Toda tragédia tem antecedentes. Fiz uma porcaria de um cartaz para protestar no estádio contra o maldito STJD, que absolve jogadores num julgamento absurdo e sem razão de ser e pede novo julgamento tempos depois para punir. Foi assim que tiraram um dos nossos melhores jogadores às vésperas do jogo deste domingo. Ao passar pela agradável revista da polícia para entrar no estádio, fui informado pelo policial que não era mais permitido entrar com nenhum tipo de faixa ou cartaz. Tive que jogar meu humilde protesto, uma folha de cartolina com a mensagem “STJD = Vergonha Nacional” no lixo. Tudo bem, não vou discutir com o policial.

Finalmente, depois de uma semana de muito trabalho e correria, e que não passava, eu havia chegado à arquibancada. Estádio lotado, aquele grito ecoando por toda parte, aquela energia, aquela emoção, aquela sensação inexplicável....finalmente senti algo de bom nesse domingo estranho.

O jogo. Jogo vai, jogo vem e nada de gol. Até teve, dois anulados, e aquele grito preso na garganta, aquela ansiedade, aquela angústia de quem só queria e pedia por um gol, um mísero gol. A paciência já estava esgotando, nada dava certo, mas como eu já escrevi umas cem vezes, toda tragédia tem antecedentes...gol do Grêmio, puta que o pariu!!!!!!! Nossa, nunca escrevi puta que o pariu, é legal!!! Puta que o pariu, hahaha!!!! No instante seguinte à fúria inigualável você se lembra de todos os seus amigos que não são palmeirenses e que vão te aloprar após o jogo e no mais tardar no dia seguinte... Amigos uma ova, a partir de agora e até enquanto durar meu mau-humor são inimigos. Acabou a merda do jogo. Eu só pensava em sumir do mapa, em acabar com todo o futebol do planeta, em virar monge e me esconder em um mosteiro ou sei lá o que...pensava também na grana que gastei para ver essa porcaria de jogo, no absurdo que paguei na camisa nova que eu vestia e nos meus amigos que não eram palmeirense, quer dizer, inimigos. Quantas vezes já disse que não ia mais ao estádio? Quantas vezes já disse que não compraria mais nenhuma camisa? Esse maldito futebol é igual aquela mulher que você ama. Todo mundo fala que ela não presta, que não vale a pena, que ela só te faz mal, e é verdade. Você até chega a aceitar isso, mas é ela sorrir e você está lá, babando que nem cachorro vendo frango na padaria.

Doeu, essa doeu!!!!! Sei que vou voltar, bem provável que no próximo jogo, mas por uns dias eu não quero saber de futebol. Não vou entrar nos sites, não vou fazer contas para saber se ainda dá para chegar ao título e muito menos ver quanto falta para alcançar os rivais. Fazer projeções então, nem se fala, só no finalzinho da segunda-feira e olhe lá.

Inconformado e cabisbaixo ia eu para casa. Silêncio total no carro até chegar em casa, nem parecia que meu irmão estava comigo. Não queria ver e nem falar com ninguém.

Botei os pés em casa, em silêncio e minha mãe grita: “Filho vai buscar pão para tomar lanche!!” Eu simplesmente o-d-e-i-o quando minha mãe faz isso. Porque não pede antes, ou liga para pedir quando eu estou na rua? A princípio, como eu sempre faço, gritei que não iria. Poxa, ela não entende que eu tive um dia difícil? Claro que não, além de mulher, ela é corinthiana e odeia que eu vá ao estádio. Ok, compreensível, agi errado!!!! Peguei o carro e fui ao mercado. Boa, vou dar um rolê, compro a merda do pão do jeito que ela quer, compro algumas coisas que queria e precisava e abasteço o carro para a semana. Novidade: Toda tragédia tem antecedentes. Fazer uma coisa de má vontade e reclamando é a pior coisa que existe. Já tinha parado de reclamar e estava viajando num Symphony X. Acelerava de acordo com as batidas no bumbo, e batucava no volante nas caixas, entre outras coisas. É assim que um baterista dirige, hehe.

21h, mercado abarrotado de gente. Puta que o pariu, é domingo a noite ou sábado a tarde? Dois pães de forma e um pacote de peito de peru. Não vou nem ver as outras coisas que eu queria, ainda tinha que abastecer o carro e o mercado fecha as 22h. Ta lá, cravado, 21h50, dá tempo de abastecer o carro e ficar tranqüilo. Posto vazio, ninguém. Essa hora, num domingo fica meio cheio, mesmo porque o mercado estava cheio. Estranho!!!!! De repente vem um frentista correndo, com cara de susto. Como já conhecia ele, nem encuquei. Pedi para completar. O cara colocou a mangueira no carro e saiu correndo. Ficou louco de vez né? E dizem que eu sou maluco!!!! Percebi que acabou e o cara não vinha tirar a mangueira. Lá vem ele de novo correndo, tira a mangueira, me da o cartão e sai correndo de novo. Vai entender. Fui para o caixa para pagar, entreguei o cartão para a atendente, passei o meu, paguei, e na hora de ir embora... uns oitocentos mil carros da polícia e com seis bilhões de policiais altamente armados brotam do chão cercando o posto, no maior silêncio. Me senti num treinamento da S.W.A.T.!!!!! Tipo assim, o posto estava sendo assaltado, puta que o pariu, de novo!!! Bom, já paguei, o portão está ali, vou para casa... “Sai do carro, sai do carro, porra!!!” Teletransportado de algum lugar aparece um policial na frente do meu carro, em posição de ataque, com a arma na mão e com cara de bravo. Agora eu virei assaltante. Ele não sabe que eu tive um dia difícil, que me deu uma baita caganeira e que eu não conseguia me mexer. Eu gritei que ia tirar o cinto e ia sair. Ele se aproximou e perguntou se eu estava com mais alguém e o que eu estava fazendo ali. Bom, num domingo a essa hora, depois do dia que eu tive eu estava procurando algum lugar para tomar um enquadro de um policial e graças a Deus eu te achei, pensei. “Estava abastecendo o carro, acabei de pagar e ia embora, ai você apareceu na minha frente, dá para abaixar a arma? Eu não sou ladrão!!!”
“Ok, entre no carro e vá embora, a situação já está controlada.”

Ordens são ordens, queimei o chão!!!! Melhor ir para casa mesmo, hoje não era dia de botar a cara na rua.

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