quinta-feira, 12 de novembro de 2009

12/11/2009
Talvez o limite da falta de limite


Madrugada de quinta-feira, 12 de novembro, 2h35. O sono foi interrompido pelo calor e por uma insônia que se não bastasse me acordar, me fez levantar.

A noite foi melancólica. Um dia de tédio no trabalho, um treino sem tanto esforço, mas cumprido à risca na academia e até um “oi” de leve e bem de longe, com a mesma cara amarrada dos últimos dias. Ela, visivelmente assustada, meio que suspirou. Parecia que queria me dizer algo. Não dei a mínima chance e o olhar dela morreu em seguida. Aprendi, quer dizer, estou aprendendo a usar o “foda-se”. As vezes ele trava, ligado ou desligado. Estou aprendendo a não dar confiança a quem não merece e tratar os outros como me tratam. Não preciso ser bom com ninguém, apenas justo.

Como dizia, a noite foi melancólica, tinha um sopro de esperança, dos mais fracos, daqueles que nem sequer gritam gol, como não gritei, em nenhum dos dois gols. O coração acelerado e a respiração difícil dos últimos dias desapareceram. Estava bem, mas com raiva, indignado, pois via um quadro melancólico e até bizarro ser pintado na minha frente, como já vi outras vezes. Tem sido sempre assim quando dependemos apenas de nós, é uma ansiedade, um tormento, um nervosismo, um desespero que nos torna ridículos diante de nossa própria platéia, em nossa própria casa.

O pior e mais raçudo atacante, que nos últimos jogos mostrou muita vontade e até lampejos de futebol, foi o de sempre, ou igual ao que dizem que é o melhor dos nossos nos últimos jogos: tropeçando na bola e errando até o respirar. O grande craque do ano não passou de um arremedo de jogador de futebol: medroso, indeciso, um garoto de três anos que mijou nas calças de vergonha quando se viu diante de uma centena de adultos. O ídolo, o de sempre, fez o de sempre: sofreu com a falta de personalidade dos outros e teve que buscar a bola nas próprias redes por duas vezes. Paciência tem limite!

De certa forma, no último domingo eu morri. Talvez o resto de força e esperança que eu tinha no coração tenha ficado no sofá da casa do tio Rodolpho. Me senti um completo idiota, manipulado... Era uma coisa que me acompanhava desde criança, mas parece que percebi que não preciso mais disso. Não como está hoje. As vezes penso se o suor dos últimos anos era verdadeiro mesmo, pois o meu sentimento era. Se pensar na grana que gastei com isso na vida, acho que estaria rico. O futebol ficou sujo, sem graça. É grana pela grana, poder, tribunais. De futebol mesmo...

Passei a acreditar em limite. Pior, em limite do limite, limite da falta de limite. Trabalhar não me dá mais prazer, aliás estar fora do escritório tem sido mais prazeroso. A TV tem me deixado feliz e até é um limite que eu ainda não descobri. De resto escrever tem me cansado e está muito chato.

Tocar já foi mais legal. Já deixei o limite mais de lado e deixava vazar a emoção. Não tinha limites, essa é a verdade. Estou muito baterista demais e rocker de menos. Sempre quis técnica, mas está muito quadrado, até com metrônomo agora. Não vejo a hora de gravar logo...

De certo mesmo é que precisava desabafar minha inconsistência e irrelevância dos últimos tempos, de alguma forma. Que seja no notebook. De certo mesmo são os olhos arregalados do Fred: com um olhar calmo e compreensivo, sempre ao meu lado, até às 3h da manhã na sala escura, iluminada apenas pelo notebook.