domingo, 25 de outubro de 2009

25/10/2009
Para ele eu estou sempre devagar...

É sempre a mesma história, sempre do mesmo jeito, sempre. Uma festa absurda, incansável, sem necessidade. Um alvoroço que até me assusta, mas é compreensível. Dizem que eles não teem noção de tempo, enxergam pouco mais que metros e em preto e branco. Sair na rua para nós é tão normal...realmente é justo o comportamento do Fred.

Parece que ele sabe que vou levá-lo. Quando acordo ele já está esperto, desce junto comigo. Dorme no pé da cama, um fiel escudeiro. Mas o sinal definitivo é depois que tomo café e acabo minha meditação. Quando termino de me trocar e desço novamento ele já está com o coração saindo pela boca literalmente, pois a língua já está para fora e a respiração é muito forte e intensa.

A coleira ele mesmo pega, é só abrir o armário. Corre com ela na boca e sobe no sofá. Fica tão ansioso que é até difícil colocá-la. Quando abro a porta, ele já está no portão, que ele mesmo abre com uma força impressionante que quase o fecha novamente.

Aí começa a corrida, faço um oito em dois quarteirões. Mas nunca é suficiente. Em menos de dez minutos estamos de volta. Diria que ele me leva para passear. Late muito, avança, me puxa, vai dando trancos na coleira o tempo todo, chega a machucar minha mão, mas é compreensível. A vida para ele é uma coisa nova, é excitante e acontece sempre que não chove ou quando não estou atrasado. É perceptível a frustração dele quando não saimos. Domingo é diferente, ele sabe que o dia é dele.

Por mais que eu tente ir devagar, ele vai cada vez mais rápido e forte. Para ele eu estou sempre devagar. Posso levantar mais cedo, me arrumar mais rápido, mas vai ser sempre assim. As vezes me vejo assim na vida. São poucos os que estão no meu ritmo: acelerado, meio tenso, sempre preocupado com o relógio e sempre querendo fazer mais.

Nos últimos tempos me machuquei com algumas coisas. Talvez essa minha necessidade de ser intenso, de falar o que penso e de colocar o coração em tudo tenha deixado este mesmo órgão um tanto duro, até com medo, o que nunca tive. É uma sensação nova, preocupante. Ando um pouco agressivo, voraz, sem paciência alguma.

Tenho evitado trabalhar em casa, mas tem horas, como nos últimos finais de semana e essa semana toda, que não deu para evitar. A vida anda bem sem graça e por mais que eu me esforce em fazer as coisas que gosto e até em planejar um final de semana, nada faz sentido. Ando fazendo muitas outras coisas e deixando de escrever. Tanto no trabalho quanto para meu lazer. É preocupante, pois sinto uma vontade enorme de colocar coisas novas para fora, de criar e de me envolver com outras novas artes. Piano, guitarra, canto e fotografia estão me cutucando e muito. Talvez sejam novas maneiras de criar e colocar para fora tudo o que tem me atormentado. Acho que virão novidades por aí. Mas antes preciso me acalmar, aprender a aproveitar meu tempo ocioso, aprender a descansar e desacelerar a vida um pouco. Seria a tal crise dos 30?

Talvez e esteja indo rápido demais, mas para ele eu estou sempre devagar... É assim que vejo os outros, e é assim que ele me vê.

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